férias *

LONDOOOON
boas férias *

and come back *




" - lembraste do perfume que puseste na minha almofada?
- sim, lembro
- ele desapareceu, e eu quero-o de volta "


a partida *


Quando estava a comprar os bilhetes de avião, senti um grande aperto. Sabia que estava certa e o meu futuro devia-se àquela viagem mas ao mesmo tempo sabia que te ia deixar para trás e que se um dia voltasse já não eras o mesmo, nem eu.
Tinha que me encontrar no aeroporto por volta das oito da noite - prefiro especialmente as viagens à noite. Ainda me sobravam algumas horas para me despedir de tudo, se um dia voltasse sabia que as lojas já não estariam no local de antigamente e até de proprietário haviam mudado. Percorri as velhas ruas da praça, parei no meu café de eleição e saboreei um café, curto e de chávena gelado como habitual, e um pastel de nata com um toque de canela e se um dia voltasse o sabor não era mais o mesmo. Já me despedira dos familiares e amigos mais próximos, eras o único que faltava. As malas estavam no carro, e o motor já aquecia. Vinhas lentamente rua abaixo, vi-te pelo espelho retrovisor, trazias um enorme ramo de orquídeas - como me conhecias bem! Entraste no carro e mandaste-me arrancar, disseste-me onde virar e seguir as ruelas que conhecias tão bem como a palma da tua mão. Por fim parámos, agarraste-me durante uns bons dez minutos, ficamos juntos a ver o pôr-do-sol, mas se um dia voltasse já não irias sentir a minha falta. Queria parar o tempo naquela fracção de segundo onde me sussurraste o que queria ouvir há muito tempo. Gastei as minhas ultimas forças contigo antes de onze horas de viagem. Sabia que era um adeus e ao mesmo tempo um obrigado por três anos de presença diária e se um dia voltasse sabia que estavas disposto a tudo outra vez. Por fim disseste-me adeus, agora no teu ponto pequenino em comparação com o avião, e deixamos que se um dia nos voltássemos a ver tudo seria exactamente como tínhamos planeado.

" txi amo "


Sempre achei que conseguia ter-te até à última, que era dona do tempo e recuava as horas que fossem preciso para remediar tudo. Achei-me demasiado forte, demasiado "senhora do meu nariz" e deixei-te ir. Como das outras vezes desisti, simplesmente arrumei-te na ultima gaveta do meu móvel. Contrariamente tu lutaste. Mantiveste-te firme a meu lado, em todas as crises reais e imaginárias. Aliás, nunca me deixaste. Enquanto mentia, traia e mal tratava tu, cegamente me protegias. Davas tudo o que não dava.
Consigo ainda, todas as noites, lembrar-me de ti e de mim - como irmãs. Parece que já passou tanto tempo desde aí mas se pensares bem foram apenas alguns meses. Sabes, já me habituei a não receber nenhuma mensagem tua mal acorde nem numa chamada a meio da noite só para te ouvir cantar uma das nossas mil e uma músicas, nem quando subitamente descobrimos que estamos no mesmo sítio e corríamos para a outra como se nunca nos tivéssemos visto.
Como é que se reduziu a tão pouco? Se pudesse ter-te só mais uma vez... mas era pedir demais visto que desperdicei sempre as outras oportunidades que me foram dadas e esta não ia ser diferente. Nunca to disse mas sinto a tua falta, sinto falta dos teus apertos e do teu aconchego que só tu sabias dar na altura certa.

« serás sempre o meu reflexo »